50 questões básicas sobre
Construtivismo
Revista NOVA ESCOLA
Março de 1995
1 — O que é o construtivismo?
É o nome pelo qual se tomou conhecida uma nova linha pedagógica
que vem ganhando terreno nas salas de aula há pouco mais de uma década. As
maiores autoridades do construtivismo, contudo, não costumam admitir que se
trate de uma pedagogia ou método de ensino, por ser um campo de estudo ainda
recente, cujas práticas, salvo no caso da alfabetização, ainda requerem tempo
para amadurecimento e sistematização.
2- Em que se distingue a pedagogia construtivista, em linhas
gerais?
O construtivismo propõe que o aluno participe ativamente do
próprio aprendizado, mediante a experimentação, a pesquisa em grupo, o estímulo
à dúvida e o desenvolvimento do raciocínio, entre outros procedimentos. Rejeita
a apresentação de conhecimentos prontos ao estudante, como um prato feito, e
utiliza de modo inovador técnicas tradicionais como, por exemplo, a memorização.
Daí o termo "construtivismo", pelo qual se procura indicar que uma pessoa
aprende melhor quando toma parte de forma direta na construção do conhecimento
que adquire. O construtivismo enfatiza a importância do erro não como um
tropeço, mas como um trampolim na rota da aprendizagem. O construtivismo condena
a rigidez nos procedimentos de ensino, as avaliações padronizadas e a utilização
de material didático demasiadamente estranho ao universo pessoal do
aluno.
3 — Com base em que o construtivismo adota tais
praticas?
Com base nos estudos do psicólogo suíço Jean Piaget
(1896-1980),. a maior autoridade do século sobre o processo de funcionamento da
inteligência e de aquisição do conhecimento. Piaget demonstrou que a criança
raciocina segundo estruturas lógicas próprias. que evoluem conforme faixas
etárias definidas, e são diferentes da lógica madura do adulto. Por exemplo: se
uma criança de 4 ou 5 anos transforma uma bolinha de massa em salsicha. ela
conclui que a salsicha. por ser comprida, contém mais massa do que a bolinha.
Não se trata de um erro, como se julgava antes de Piaget, mas de um raciocínio
apropriado a essa faixa etária. O construtivismo procura desenvolver práticas
pedagógicas sob medida para cada degrau de amadurecimento intelectual da
criança.
4 — Piaget criou o construtivismo?
Nada mais falso. Ao contrário do que muitos imaginam, ele nunca
se preocupou em formular uma pedagogia: dedicou a vida a investigar os
processos da inteligência. Outros especialistas é que se valeram das suas
descobertas para desenvolver propostas pedagógicas inovadoras.
5 — De onde vem, então, o construtivismo?
Quem adotou e tornou conhecida a expressão foi uma aluna e
colaboradora de Piaget. a psicóloga Emilia Ferreiro. nascida na Argentina em
1936 e que atualmente mora no México. Partindo da teoria do mestre, ela
pesquisou a fundo, e especificamente. o processo intelectual pelo qual as
crianças aprendem a ler e a escrever, batizando de construtivismo sua própria
teoria.
6 — Então é ela a autora da pedagogia construtivista?
Não. A exemplo de Piaget, Emilia se limitou a desenvolver uma
teoria científica. Outros especialistas é que vêm utilizando suas descobertas,
assim como as de Piaget. para formular novas propostas pedagógicas. No começo, o
nome construtivismo se aplicava só à teoria de Emilia. Com o tempo, passaram a
ser chamadas de construtivistas as novas propostas pedagógicas inspiradas em sua
teoria, a própria teoria de Piaget e ate mesmo pedagogias anteriores, porem
compatíveis, como a do educador soviético Lev Vvgotsky (1896-1934).
7 — O que a teoria de Emilia Ferreiro sustenta?
A pesquisadora aplicou a teoria mais geral de Piaget na
investigação dos processos de aprendizado da leitura e da escrita entre crianças
na faixa de 4 a 6 anos. Constatou que a criança aprende segundo sua própria
lógica e segue essa lógica até mesmo quando ela se choca com a lógica do método
de alfabetização. Em resumo, as crianças não aprendem do jeito que são
ensinadas. A teoria de Emilia abriu aos educadores a base científica para a
formulação de novas propostas pedagógicas de alfabetização sob medida para a
lógica infantil.
8
— Qual é a lógica infantil na alfabetização, segundo
Emilia Ferreiro?
A pesquisadora constatou uma sequência lógica básica na faixa
de 4 a 6 anos. Na primeira fase, a pré-silábica. a criança não consegue
relacionar as letras com os sons da língua falada e se agarra a uma letra mais
simpática para "escrever". Por exemplo, pode escrever Marcelo como MMMMM ou
AAAAAA. Na fase seguinte, a silábica, já interpreta a letra à sua
maneira, atribuindo valor silábico a cada uma (para ela. MCO pode ser a grafia
de Mar-ce-lo. em que M=mar, C=ce e 0=l0). Um degrau acima, já na fase
silábico-alfabética, mistura a lógica da fase anterior com a identificação de
algumas sílabas propriamente ditas. Por fim, na última fase, a alfabética, passa
a dominar plenamente o valor das letras e silabas.
9 — O construtivismo se aplica somente à alfabetização
infantil?
Não. Ainda se encontra muito vinculado à alfabetização, porque
foi por essa área que começou a ser desenvolvido, a partir da base teórica
proporcionada por Emilia Ferreiro. Contudo, práticas construtivistas,
devidamente adaptadas, já estão bastante difundidas até a quarta série do
primeiro grau. A partir da quinta série, porém, quando cada disciplina passa a
ser ministrada por um professor especializado, tais práticas são menos
utilizadas, até pela relativa escassez ainda registrada de pesquisas teóricas
equivalentes às de Emilia.
10 — Por que o construtivismo faz restrições à "prontidão" na
alfabetização infantil?
Com base nas teorias de Piaget e Emilia Ferreiro, os
construtivistas consideram inútil a prontidão, ou seja, o treinamento motor que
habitualmente se aplica às crianças como preparação do aprendizado da escrita.
Para eles, aprender a ler e escrever é algo mais amplo e complexo do que
adquirir destreza com o lápis.
11 — O aluno formado pelo construtivismo fica bom de
raciocínio, com mais senso crítico, porém mais fraco de conhecimentos?
Não é bem assim. Os construtivistas insistem em que, embora o
construtivismo enfatize o processo de aprendizagem, este não ocorre desligado do
conteúdo: simplesmente não há como formar um indivíduo crítico no vazio.
Portanto, a aquisição de informações é fundamental.
12— Como o construtivismo transmite o conhecimento não passível
de ser "construído" pelo aluno, como nomes de cidades ou de presidentes?
O construtivismo estimula a descoberta do conhecimento pelo
aluno. Evita afogá-lo com informações prontas e acabadas, mas quando necessário
não hesita em valer-se da memorização. Neste caso, a professora deve escolher o
momento oportuno e criar situações interessantes para transmitir esses
conhecimentos, fugindo assim da rigidez da prática tradicional.
13
— O construtivismo requer mais atenção individual ao
aluno do que outras linhas de ensino?
Sim, mas não com a obsessão que às vezes se imagina. Se o
construtivismo admite que cada aluno tem o seu processo particular de
aprendizagem, a professora deve conhecê-lo, acompanhá-lo e fazer as intervenções
adequadas. Mas isso não quer dizer centralização total, ao contrário. O
construtivismo valoriza muito o intercâmbio entre os alunos e o trabalho de
grupo, em que a professora tem uma presença motivadora e menos
impositiva.
14
— Como a professora pode dar atenção individualizada
em classes de 30 ou 40 alunos?
O ideal é que as classes não sejam tão numerosas. Mas, de
qualquer modo, vale a alternativa de trabalhar com duplas ou trios, agrupando as
crianças por habilidades parecidas ou opostas, a critério da professora. No
construtivismo, a professora aproveita a individualidade de cada aluno para o
enriquecimento do grupo.
15
— Por que o construtivismo contesta o ensino
dirigido?
Não é bem isso. O construtivismo considera a sistematização do
ensino necessária, mas aplicada com bom senso e flexibilidade. Contesta, sim,
que o currículo seja uma imposição unilateral, uma camisa-de-força, com etapas
rígidas, sucessivas e inalteráveis. Não se aprende por pedacinhos, mas por
mergulhos em conjuntos de problemas que envolvem vários conceitos ao mesmo
tempo, afirmam os construtivistas.
16 — Por que a alfabetização construtivista rejeita o uso da
cartilha?
Primeiro, porque a cartilha prevê etapas rígidas de
aprendizagem, coisa que o construtivismo descarta. Segundo. porque os
construtivistas acham que a linguagem geralmente usada nas cartilhas
("Bá-bé-bi". "Ivo viu a uva" etc.) é padronizada, artificial, distante do mundo
conhecido pela criança.
17— Por que o construtivismo faz restrições aos livros
didáticos?
Pelo fato de a maioria deles apresentar o conhecimento em
sequência rígida, prevendo uma aprendizagem de conceitos baseada na
memorização.
18— E ao ensino da tabuada?
O caso é diferente. A memorização é essencial para agilizar o
cálculo mental, mas isso deve ocorrer após o aluno compreender o significado das
operações aritméticas, como a multiplicação. O que os construtivistas não
aceitam é a memorização puramente mecânica. conhecida como "decoreba".
19— E a restrição ao ensino de regras gramaticais?
O construtivismo contesta que o ensino da gramática seja o meio
para se levar o aluno a entender e dominar o processo de escrever corretamente.
Isso se adquire praticando a escrita, mesmo com erros gramaticais. A medida que
o aluno vai dominando a escrita é que se passa a ensinar-lhe a gramática. As
regras identificam certas regularidades da língua, mas para entendê-las é
preciso tê-las percebido na prática.
20 — Por que o construtivismo, em geral, não aceita o uso de
fórmulas, como as de matemática e as de sintaxe?
Não é que não aceite. A restrição é ao ensino de fórmulas como
se fossem os conteúdos, pois elas não passam de esquemas sintéticos muito mais
abstratos. A fórmula, em si mesma, não é o núcleo do conhecimento, mas aquilo
que o sustenta.
21 — Qual é o papel da professora no construtivismo e em que
difere do ensino tradicional?
Em vez de dar a matéria, numa aula meramente expositiva, a
professora organiza o trabalho didático-pedagógico de modo que o aluno seja o
co-piloto de sua própria aprendizagem. A professora fica na posição de mediadora
ou facilitadora desse processo.
22 — O que é necessário para ser uma boa professora
construtivista?
Mentalidade aberta, atitude investigativa. desprendimento
intelectual, senso crítico, sensibilidade às mudanças do mundo combinada com
iniciativa para torná-las significativas aos olhos dos alunos e flexibilidade
para aceitar a si mesma em processo de mudança contínua. Ela precisa dar mais de
si e precisa estar o tempo todo se renovando, para sustentar uma relação com os
alunos que não se baseia na autoridade. mas na qualidade.
23 — A professora construtivista precisa de uma orientadora
pedagógica?
Sim. A orientadora é importante, não para tutelar a professora,
mas para servir de interlocutora com quem ela possa refletir sobre sua
prática.
24 — É possível ser construtivista em uma escola
tradicional?
Em geral, o projeto pedagógico de uma escola tradicional não
favorece nem leva em conta o trabalho de uma professora que resolva tocar em
outro tom. Embora seja difícil manter uma proposta individual num ambiente
alheio a mudanças, há muitos casos assim. Além disso, deve-se considerar o fato
de que é difícil uma escola passar a ser construtivista num só golpe. Isso
ocorre de maneira paulatina, até porque o construtivismo, do mesmo modo que
respeita os processos de transformação por que passam os alunos, também deve
respeitar o das próprias professoras.
25 — Existem manuais que ensinem a ser
construtivista?
Manuais, com tudo mastigado, não. Mas não falta material de
apoio para que a professora comece a olhar seu trabalho de outro modo (leia
bibliografia ao final deste texto). O fundamental, de qualquer maneira. é a
prática. Calcula-se que são necessários ao menos dois anos de prática em classe,
reforçados por reuniões semanais com outros colegas, para tornar-se uma boa
professora construtivista.
26— Existem cursos que ensinem a ser construtivlsta?
Algumas instituições promovem cursos de extensão ou
especialização, seminários, palestras e reuniões de estudo com essa
finalidade. Mas atenção: nesses cursos não se ensina a ser
construtivista. Neles se discute a prática da professora, de modo que ela ganhe
elementos para encontrar seu próprio caminho, mais ou menos como depois irá
fazer em relação ao aluno.
27 — Quais as vantagens do construtivismo sobre outras linhas
de ensino?
Procura formar pessoas de espírito inquisitivo, participativo e
cooperativo, com mais desembaraço na elaboração do próprio conhecimento. Além
disso, o Construtivismo cria condições para um contato mais intenso e prazeroso
com o universo da leitura e da escrita.
28 — Quais as desvantagens do construtivismo em relação a
outras linhas de ensino?
Sendo uma concepção pedagógica nova e flexível, não oferece à
professora instrumentos tão seguros e precisos com respeito ao seu trabalho
diário. Ainda há muito por sistematizar, admitem os construtivistas.
29
— As outras linhas de ensino não podem formar alunos
tão bem ou mesmo melhor que o construtivismo?
Em termos de quantidade de conhecimento, sim. Quanto à
qualidade do conhecimento, dificilmente, pois o construtivismo desperta no aluno
um senso de autonomia e participação que não é comum em outras linhas
pedagógicas, sustentam os construtivistas.
30 — O construtivismo forma o estudante com mais ou menos
rapidez que outras linhas de ensino?
O construtivismo não dá exagerada importância a prazos rígidos.
Na alfabetização construtivista, estima-se que um aluno do meio rural, que nunca
viu nada escrito, precisa de dois a três anos para chegar a ler e escrever com
eficiência. Já no meio urbano, um aluno de 7 anos, que convive intensamente com
a escrita, leva algo em tomo de um ano e meio. Comparativamente, no ensino
convencional, a maioria das crianças é capaz de soletrar e formar palavras em um
ano - o que os construtivistas, contudo, não consideram alfabetização.
31 — Como a escola construtivista lida com a ansiedade de pais
que percebem seus filhos atrasados em relação a crianças de outras
escolas?
Aproximando os pais da escola, tenta-se demonstrar a eles quais
as diferenças desta nova concepção de trabalho, comparando-a com o ensino
tradicional. Pode não se tratar propriamente de um atraso, no sentido de
deficiência no aproveitamento, mas de um outro ritmo de aprendizado que, ao
final do ano, vai resultar numa vantagem qualitativa.
32-Um aluno formado exclusivamente dentro dos moldes
construtivistas pode competir em igualdade de condições em vestibulares e
concursos públicos?
A resposta é arriscada, pois ainda há muito poucos alunos
formados exclusivamente pelo construtivismo em idade de vestibular e não há
pesquisas conhecidas a respeito.
33 — O construtivismo permite que os pais ajudem os filhos nas
tarefas de casa?
Ponto polêmico. Alguns admitem que sim: se o jeito de ensinar
dos pais for diferente do da escola, a criança tem a vantagem de dispor de outra
forma de aprender. Outros, contudo, sustentam que a tarefa de casa é para ser
realizada pelo aluno. A vantagem, aí, seria ele ter chance de experimentar uma
situação rara para ele na escola, uma vez que a maioria das atividades em classe
é realizada em grupo.
34 — Como é a avaliação do aluno no construtivismo?
O aluno é permanentemente acompanhado, pois a avaliação
é entendida como um processo contínuo, diferente do sistema de provas periódicas
do ensino convencional. Segundo os construtivistas, a avaliação tem caráter de
diagnóstico - e não de punição, de certo ou errado, de exclusão. Além disso, a
própria professora também se auto-avalia e modifica seus rumos.
35 — Em que difere a prova construtivista?
Ela tem peso menor que no ensino tradicional. Não é o único
indicador do rendimento do aluno, que também é avaliado pelo desempenho
rotineiro em classe. Além do mais, a prova não é uma peça estranha ao grupo,
elaborada fora da sala de aula, por um especialista (geralmente um coordenador).
Tal responsabilidade cabe à própria professora, que leva em conta aquilo que já
foi efetivamente trabalhado na sala de aula.
36—O que significa o erro do aluno?
É tomado como um valioso indicador dos caminhos percorridos por
ele para chegar até ali. A professora não está tão preocupada com o acerto da
resposta apresentada pelo aluno, mas sobretudo com o caminho usado para chegar a
ela. Em vez de ser um mero tropeço, o erro passa a ter um caráter construtivo,
isto é, serve como propulsor para se buscar a conclusão correta.
37
— O construtivismo não corrige o erro do
aluno?
Corrige, mas sempre tomando o cuidado de que a correção se
transforme numa situação de aprendizagem, e não de censura. Por exemplo, no
início do ano a professora pede aos alunos que escrevam um texto e guardem o
material corrigido. No fim do ano, pede uma nova redação sobre o mesmo tema.
Então, junto com os alunos. compara os dois trabalhos, ressaltando os progressos
ocorridos. No ensino tradicional, o erro deixa menos vestígios no caderno do
aluno, pois é corrigido, apagado, à medida que aparece.
38—O construtivismo reprova?
Sim, quando o aluno se encontra em tal atraso em relação ao
resto da turma, que fazê-lo passar de ano seria lançá-lo numa situação muito
desagradável. De qualquer modo, tenta-se evitar que a criança viva a reprovação
como um atestado de sua incapacidade ou como castigo por não ter
aprendido.
39
— Os alunos transferidos de uma escola construtivista
para outra, não-construtivista, acompanham mal a nova turma?
Os construtivistas não reconhecem a existência deste fenômeno,
mas especulam que poderia tratar-se de uma pura e simples questão de adaptação,
e não de despreparo. Os alunos podem achar a nova escola desinteressante, não
gostar da postura da professora ou estranhar os métodos de avaliação.
40
— O aluno educado no construtivismo é mais sujeito a
cometer erros do português?
No inicio do construtivismo isso ocorria com freqüência. porque
os professores se preocupavam mais com o conteúdo do texto do que com a
ortografia - falha que passaram a corrigir nos últimos cinco anos.
41 — Por falta do treinamento motor (prontidão), as crianças
alfabetizadas no construtivismo acabam fracas de caligrafia?
O construtivismo sustenta que não, pois o treinamento delas se
faz à medida que vão escrevendo. Algumas escolas chegam ainda a lançar mão do
velho caderno de caligrafia, como no ensino tradicional, quando a criança tem
letra ruim.
42
— O construtivismo desestimula a competição entre os
alunos?
Sim, pois uma de suas linhas mestras repousa justamente na
cooperação entre eles. No entanto, mesmo pondo de lado a competição, o
construtivismo investe no desafio pessoal, como motivação para a criança ir
sempre avante nas trilhas do conhecimento
43
— A sala de aula numa escola construtivista é mais
barulhenta e agitada do que na tradiconal?
Em termos. O que ocorre é que as crianças não são passivas. mas
sim estimuladas a participar, dizem os construtivistas
44 — As crianças não tendem a ficar indisciplinadas, malcriadas
e incapazes de ouvir o outro, em consequência de uma educação construtivista?
Caso elas tendam à indisciplina e ao desrespeito a outra
pessoa, seja colega ou professor, terá falhado um dos pilares do construtivismo,
argumentam seus praticantes, pois o que se enfatiza é justamente a reciprocidade
na fixação de regras, no escutar e no ouvir, nos direitos e deveres, nos
princípios básicos da cidadania e da democracia.
45 — O professor construtivista deixa os alunos fazerem o que
bem entendem em classe?
Não. A sala de aula é um espaço com regras de funcionamento e
de convivência. O superliberalismo pedagógico destoa das concepções do
construtivismo.
46 — O construtivismo pune alunos indisciplinados?
Sim, porém o caráter dessa punição, dentro do possível, deve
ser, digamos, "construtivo" - deve buscar a reciprocidade e a reparação. Por
exemplo, se uma criança rasga um livro, deve consertá-lo. De todo modo. em casos
mais graves, admite-se até a tradicional suspensão.
47
— Como o construtivismo se espalhou?
As bases teóricas foram estruturadas na primeira metade deste
século, com Piaget e os psicólogos soviéticos, entre os quais Lev Vygotsky é o
mais divulgado no Brasil. As pontes para a prática pedagógica se consolidaram
com Emilia Ferreiro e seus colaboradores, a partir do final da década de 1970.
Na década seguinte, o construtivismo se disseminou na América Latina,
principalmente na Argentina e no Brasil. As experiências brasileiras mais
expressivas foram registradas nas redes municipais de Porto Alegre e de São
Paulo, assim como no ciclo básico (as duas primeiras séries) da rede estadual
paulista.
48 — O construtivismo passou por mudanças desde que começou a
ser adotado no Brasil?
Sim. A fase inicial, em que o aluno era deixado muito
solto, como se a professora não estivesse na sala de aula (prática
espontaneísta). está superada. Hoje se quer do professor uma atuação firme e
planejada (prática intervencionista). No geral, contudo, o núcleo pedagógico do
construtivismo permanece inalterado.
49 — A interdisciplinaridade tem alguma relação com o
construtivismo?
Sim, embora a interdisciplinaridade seja uma prática pedagógica
autônoma e anterior ao construtivismo. Como nenhum professor, por mais ampla que
seja a sua formação, pode dominar todos os conhecimentos envolvidos na tarefa de
lecionar, o trabalho interdisciplinar é recomendado para todo e qualquer
nível.
50— É feio não ser construtivista?
Não, absolutamente. Feio é não ser autêntica e não se preocupar
em dar o melhor aos alunos, seja de si mesma. seja das múltiplas áreas do
conhecimento. Feio, enfim, é ser má professora.
BIBLIOGRAFIA
Psicogênese da língua Escrita,
de Emilia Ferreiro e Ana
Teberosky. Ed. Artes Médicas, Av.
Jerônimo Ornellas. 670. CEP 90040-340. Porto Alegre. RS. Tel:
(051) 330-3444/330-2183
A Escrita e a Escola
, de Ana Maria Kaufman. Ed. Artes
Médicas.
Alfabetização em Processo
, de Emilia Ferreiro. Ed. Cortez.
R. Bartira. 387. CEP 05009-000. São Paulo. SP. Tel: (011) 864-0111.
Ensaios Construtivistas
, de Lino de Macedo. Ed. Casa do
Psicólogo. R. Alves Guimarães, 436, CEP 05410-000. São Paulo, SP, Tel: (011)
852-4633.
Aprendendo a Escrever: Perspectivas Psicológicas e Implicações
Educacionais
, de Ana Teberosky. Ed. Ática. R. Barão de Iguape. 110. CEP:
01507-900, caixa postal 8656, São Paulo, SP. Tel: (011) 278-9322.
Artigo retirado do site: http://www.ufpa.br/eduquim/construtquestoes.htm
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